quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Menina



A notícia chegou pra mim como uma pétala de rosa alcança o chão, leve, suave, envolta em beleza. "Uma irmã mais nova!" Quantos anos havia esperado por um momento como aquele, por uma alegria tão grande que não me cabia dentro do peito.
Hoje, 12 anos depois, imagino que além da alegria, tenha sido tambem como um alívio, uma necessidade de dividir com alguém que realmente entendesse.
Depois de um mês de muito calor, ela chegou, como um presente meu. Cabelo ralinho, claro, 10 dedinhos do pé, 10 dedinhos da mão: perfeita. Lembro até hoje do temporal que caiu quando fui visitá-la, o que me "obrigou" a passar a noite no hospital. Eu não me importava. Só queria estar perto dela, ver cada movimento, cada som, cada detalhe. Parecia tão frágil...Mal dormi, de tanta excitação. Quando minha mãe já estava bem pra ir pra casa e a enfermeira nos entregou aquele embrulhinho rosa, lembro ter pensando: " e agora?! é isso?! levamos pra casa, assim, sem nenhum ajuda?!" Hoje fico pensando como será quando meu filho vier... A vida com ela era outra. Alegria, brincadeira, choro, novidade. Minha irmã era linda, fofa, minha bonequinha. Lembro até hoje dos primeiros passos na sala, das gargalhadas que soltava quando eu conversava com ela, de como gostava que a carregasse como "banquinho" e de como ao começar a falar, me chamava "imã, imã!" Bastava um olhar dela, pra me arrancar um sorriso. O dia que a deixei cair, chorei tanto, mas tanto, certamente muito mais que ela. Ela sentia cosquinha no pulso, por causa das dobrinhas extras e me achava a pessoa mais interessante do mundo. Me lembro o quanto crescia rápido, pois marcávamos sempre sua altura atrás da porta do quarto. Um dia ela chegou e me disse: "Desculpa, vc disse que não queria que eu crescesse, né? mas eu não consigo parar!" Eu ri, tantando concertar aquilo e mostrá-la como era lindo que a cada dia ela estivesse maior, não só em centímetros, mas em coração.
Queria ensiná-la sobre a vida, sobre o mundo lá fora, e o de dentro, sobre como é importante amar sua familia e ao mesmo tempo tornar-se independente dela em algum momento, sobre como os amigos são nossos aliados, nossa força e maior fonte de risadas, sobre como Deus precisa estar no centro do seu coração, para que todo o resto simplesmente flua... Sobre como ela deve sonhar sempre, sem deixar que lhe digam que seu sonho não tem sentido, sobre como meninos vão se aproximar e que alguns deles simplesmente não vão valer a pena e a farão sofrer... Sobre como esses que não valem a pena são os que um dia nos ensinam a valorizar o que vale todo sacrificio. Ou nem todo, pois é preciso se respeitar antes de se doar completamente a ele. Queria ensiná-la sobre as coisas simples, sobre olhar o céu, as flores, as borboletas... Sobre como algumas pessoas passam pela nossa vida e deixam muitas saudades, mas deixam um pouco delas em nós e nós, também a modificamos. Queria mostrá-la que se quiser pode andar de skate, dançar forró, balé, ser atleta, médica ou costureira, desde que coloque todo o seu coração no que for. Queria mostrar pra ela como ler é enriquecedor, e como os livros e os filmes que assistir vão pouco a pouco, moldando seu ser e fazendo parte de quem é. Queria ensiná-la sobre o mistério da música, o valor de um abraço, a intensidade do tempo. Queria que entendesse que as pessoas são diferentes, e que isso não é necessáriamente, um problema - muitas vezes, é a solução. Queria que soubesse que há tempo pra tudo, e que não precisa ter pressa em virar "gente grande", pois do seu tamanho, há toda ternura, inocência e beleza que um ser humano possa alcançar em toda uma vida. Queria que pudesse sempre se sentir feliz, amada, linda, sem tornar-se metida e sem achar-se melhor que ninguém. Queria alertá-la sobre as amizades falsas, os momentos de solidão e o risco da rejeição... E dizê-la que para os meus braços, sempre poderá correr.

Mas hoje, 12 anos depois, ouvindo-a contar sua vida de menina vejo quem precisa mesmo aprender o quê.

2 comentários:

  1. Filha, que coisa mais linda, acabamos de ler, sua irmã ficou mto emocionada e eu tb. Na verdade nós (quase) choramos, mas não chegamos lah, visto que já choramos à beça hj, hehehehehe. Eu agradeço muito, muito a Deus por ter-nos dado a Bú, e por Ele ter dado ela a você, que a queria tanto...me lembro como vc pedia uma irmã, Deus foi mais que maravilhoso, nos deu a mais linda flor do Seu jardim.
    Agora sei que, quando eu for me encontrar com Ele, vocês vão poder ficar bem juntinhas ainda mais um pouco por aki, e uma sempre estará dando suporte pra outra.
    Deus as abençoe, vcs são a minha maior vitória nesta tão difícil vida!

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  2. Gostei!

    "Mas hoje, 12 anos depois, ouvindo-a contar sua vida de menina vejo quem precisa mesmo aprender o quê."

    Gostei muito disso!

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