quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

Olhares que alcançam o mundo




Sabem-se pequenos em estatura, mas grandes em alcance.

Os olhares atentos de cada um naquela noite alcançavam o mundo inteiro, dentro daquele pátio cheio de verde,
Infestado de cor.

Gente que sabe ver gente. Que tem talento, mas também pequenez. 

Que tem garra e ambição, mas vê o outro como a si mesmo. Às vezes mesmo antes de si mesmo.

Gente que desde criancinha aprendeu a amar como se deve... Livremente, sem julgamentos, sem preço a pagar, sem rótulos.

Gente tão bonita pra esse mundo. Fresquinhos, novos em folha, e ao mesmo tempo tão maduros, tão prontos.

A verdade é que dá um frio aqui dentro, um medo de o mundo estragar, machucar, destruir o que é bom.

E logo depois do medo, a certeza: o que é deles, nada no mundo tira. Corações ardentes, e ao mesmo tempo puros.
Sonhos tantos, e todas as ferramentas para segui-los. Já sabem quem são, já se reconhecem, já aparecem.

O que vemos, são apenas 15 anos. Mas na alma, incontáveis idades.

Agora, são cada um, são folhas separadas.

Mas dentro, se unem em árvore.

Pra sempre,  serão Ágora.

domingo, 12 de agosto de 2012

Meu pai não é herói de filme americano



Meu pai não é herói de filme americano. Mas perdi as contas de quantas baratas ele matou por mim, mesmo que fosse no meio da madrugada e ele tivesse que acordar para a perseguição. Ele não é o mais forte de todos, o mais machão, o mais seguro. Mas sempre me mostrou seu lado humano, o que nos permitiu uma proximidade invejável desde cedo. Ele também nunca foi o mais alto, mas nos ombros dele eu me sentia a maior das criaturinhas. Meu pai saia pra padaria e voltava com diversas revistinhas da turma da Mônica pra mim. Eu tinha vontade de comer um doce, ele ia antes que eu acordasse comprar morangos e a gente misturava leite condensado e comia juntos no quarto dele, assistindo aos meus desenhos de menina.  Ele me levava pra piscina, e eu gostava de pisar nas pernas dele pra me sentir mais segura na parte funda. Ele me deixava fazer quase tudo que eu quisesse, e lembro a primeira vez que brigou comigo, quando resolvi sair do nosso condomínio pro de uma amiga, há menos de duzentos metros, de bicicleta sem avisar. Os olhos dele pra mim eram de raiva, mas também de medo, e aquilo acabou comigo. 

Um dia meu pai me deixou dormir às 11h da noite, e eu achei aquilo o máximo! Meu pai sempre me encheu de palavras de admiração, sempre levou a sério o que eu sentia, e até hoje me fala do quanto acredita que as mulheres são muito mais evoluídas que os homens, rs. De fato ele sempre foi um grande feminista.

Os anos foram passando, e por causa dele realizei meu grande sonho do intercâmbio, onde conheci o amor da minha vida... Há quase um ano, ele me levou no altar até esse amor, e o recebeu no coração, sabendo o quanto ele me faz feliz.

Meu pai não é um herói americano. Mas no meu coração, ele é o herói que me ensinou que a vida é complicada, mas nas coisas simples, na fotografia, nos livros, nas viagens e especialmente na conversa, dividimos pra somar. E o colo dele me trouxe muita paz. Meu pai não é herói, nem americano.
Meu pai é o melhor que ele pode ser pra mim. Ele é pai por inteiro.  

terça-feira, 7 de agosto de 2012

Na estrada





A folha em branco. Os olhos diante na máquina de escrever. Nenhuma letra sequer. Nada.

A estrada vazia. Dentro do carro, seguindo pelos quilômetros sem fim, uma reta única, árida, vaga. No meio do nada.

Ambas incertas. Firmes, porém perdidas, sem limite. Até onde irá a estrada? Onde se vê a próxima curva? Como se inicia o texto, como construí-lo, bordá-lo, nitri-lo, como? Por onde começar? 
As letras, antes de unidas em palavras, e então frases, são apenas letras. Sozinhas. Separadas. Sem sentido.

Uma estrada vazia. Uma folha em branco. Que será mais angustiante que isso?

Um coração que anda em linha reta, sem nada encontrar, vendo sempre a mesma paisagem. Ou que, na tentativa de criar laços, vê letras, mas não consegue reunir frases. Talvez seja ele sim, o mais vazio de todos.

sexta-feira, 27 de abril de 2012

Pés descalços


Pés descalços, sorriso estampado na cara. Mais uma manhã na vida da menina de 10 anos. De férias. Na casa do pai.
Ela era uma estampa de preguiça boa com energia, aquele misto de vontade com calmaria. Coisa de criança.
O café da manhã farto, as brincadeiras com a vizinha, os mimos da "mãe preta". Batata frita no almoço, que Elza cortava bem fininha, imagina uma batata palha feita na hora, crocante, fresquinha. "Melhor batata frita do mundo", ela dizia.
Brincava no jardim, banho de mangueira, bicicleta no condomínio, aniversário de boneca. Com bolo e tudo.
À noite, miojo com galinha, que a amiga da escola comeu pela primeira vez na vida. E repetiu. Algumas vezes.
Som de desenhos animados pela manhã, na cama do pai. E de noite, filme infantil, deitada no peito dele. E aquele cheiro do desodorante que ele nunca mudou.
Ela sabia, sentia que eram dias que não voltariam. E os vivia na mais intensa entrega, ingenuamente aceitando-os como o "pra sempre" dela, ainda que passassem. Sempre passavam. Mas eram só dela, aquelas horas, que viraram dias, semanas, meses... e então, anos.  Tão contraditório e tão certo. Coisas do tempo.
Mas aqueles dias, sempre na memória, a fonte do brincar, saborear. Mastigar cada pedaço, com graça, curtindo, sem engolir inteiro nunca. E era assim tão fácil!
O segredo é lembrar, sempre que possível, dessas "coisas de criança". Só perde quem não quer encontrar.
Mas aquela batata frita... a melhor do mundo! Nunca mais iria provar.

sexta-feira, 16 de março de 2012

Olhos de jabuticaba



Seus olhos me sorriram. Olhos de jabuticaba.
E meu coração derretido se entregou a ela, logo de cara. Eu não tinha a menor chance...
E foi assim que entrou na minha vida, tomando logo um espaço enorme aqui dentro.  Com seu jeito estabanado, foi se aninhando e ficou. 
Foi amor à primeira vista.
E eu que pensava que nunca mais fosse me apaixonar!
Um amor assim novo, cheio de cor, lambidas e risos soltos.
Só entende que se deixou sentir,
esse amor tão sincero e doce
amor de quatro patas.

Aos dezeseis



(...)
"o coração perdeu um pedaço, mas ganhou um remendo."

terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Lua Minha


Não eram nem 5h da manhã. O miado em volume um pouco mais baixo que o normal me dispertou. Levantei para direcioná-la para fora de casa, de um jeito um pouco diferente das outras noites. Não queria que ele acordasse e tivesse um dia ruim por conta do cansaço... desci, forcei um pouco a saída dela, e voltei pela escada. Quando cheguei na saleta, uma luz me puxou: era a lua, redonda e especialmente brilhante naquela madrugada de terça feira. A sensação dentro de mim é que era impossível ignorá-la, não olhar com mais calma. Tentei fotografá-la, inultimente, como normalmente acontecia com a lua. Ao contrário do sol, ela era tímida, e ao mesmo tempo exibida e marrenta. Não se deixava captar, escondía-se em meio a escuridão que a cercava. Então, me rendi àquele momento, que era o que me restava. Admirei-a, enquadrada perfeitamente entre a folhagem das árvores, através do vidro da minha janela entre aberta. E não pude guardá-la numa fotografia, mas ela ficou em mim. Uma lua que me leu numa noite quente de verão. Talvez a lua mais bela que já tenha visto em toda a minha vida. Simplesmente da janela da minha sala, de um ângulo que pra mim era totalmente novo, numa altura tão perfeita que me imaginava quase podendo tocá-la. A lua que me tirou o sono e o folêgo. E me trouxe de volta a inspiração, o desejo pela vida-de-cada-dia e a esperança. Apenas por aparecer pra mim, como se na verdade me buscasse. A lua que me fez sentir mais perto de Deus. Não era uma lua qualquer... ainda que fisicamente distante, era uma lua só minha, a minha lua que entrava na minha casa pra iluminar não só o ambiente, mas a minha alma.

Não fui capaz de fotografar aquela lua, mas ela certamente tirou muitas fotos minhas.