quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Caminhos


Saíram da estrada pensando: onde nos levará? Por quanto tempo ficaremos lá? Nada disso importava. O tempo, pela primeira vez na vida parecia estar ali, disponível para os dois. Andaram durante horas, sentindo o vento quente no rosto e escutando os Stones tocando no rádio. "It was just my imagination, once again
Running away with me" Eles gritavam e riam e voltavam a cantar, tudo na mais perfeita sintonia. A estrada reta, o sol brilhando e mais ninguem para dividir aquele momento. Pra ela, era o melhor dia do mundo. Sem planos, só a estrada e um grande amor. Para ele, um desafio, deixar para trás todas as preocupações, a familia, tudo mais que o prendia às horas de cada dia.
Mas estavam ali. Sem celulares e sem neuroses. Foi quando ele disse:
- Porque estamos fazendo isso?
- Por nada, pela diversão, pelo risco, pela vida! - Respondeu ela, sempre tão sensitiva, sem notar dessa vez que o tom da pergunta indicava um certo pavor. Ele então a fitou com um olhar gélido que tudo dizia, e que consequentemente a deixava sem a menor coragem de perguntar. Os silêncios entre eles sempre tinham sido tão profundos, cheios de paz e verdade.
- Rafa, pra onde você está nos levando? - Foi a única coisa que ela se sentira capaz de dizer, esperando que ele não respondesse no sentido literal, e daquela vez fosse além das palavras ditas e demonstrasse os sentimentos. O solo da guitarra os acompanhava e parecia esticar ainda mais aqueles segundos sem fim.
- Sempre achei que fosse pro resto de nossas vidas, mas hoje, acho que preciso te deixar do outro lado.
A música de repente parecia não estar mais tocando. Tudo que Nina ouvia era o bater acelerado do seu próprio coração. Nem mesmo a lágrima quente, que parecia presa aos seus olhos conseguia descer. Era como se o vento não soprasse mais, a estrada parecia ter encontrado uma barreira tão grande, que impedia o carro de andar um milímetro sequer.
- Quero descer. - Foi tudo o que conseguiu dizer, enquanto a música chegava ao fim, junto com sua própria sensação de ter um chão onde pisar. "But in reality, she doesn't even know... me"
Seu coração havia saido de um extremo a outro, em uma unica canção. Nina não entendia. Mas contentou-se no seu não entender e seguiu em frente, numa estrada diferente daquela. Até então, precisava seguir só.

Um comentário:

  1. Três comentários:

    1 - Me lembra de fazer o primeiro ao vivo. (haha)
    2 - Se aventure mais na prosa!! (Por enquanto, ainda gosto mais das poesias, mas...)
    3 - Hmm ficou bom! Mas só bom. Sério, você escreve muito bem e poderia ter ficado ótimo!! Mas dessa vez ficou bom, só. (Ah! E eu gostei do coração em extremos numa música só =D e isso é o tipo de texto de quem tem 24 anos... hahaaha)...

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