Meu pai não é herói de filme americano. Mas perdi as contas
de quantas baratas ele matou por mim, mesmo que fosse no meio da madrugada e
ele tivesse que acordar para a perseguição. Ele não é o mais forte de todos, o
mais machão, o mais seguro. Mas sempre me mostrou seu lado humano, o que nos
permitiu uma proximidade invejável desde cedo. Ele também nunca foi o mais
alto, mas nos ombros dele eu me sentia a maior das criaturinhas. Meu pai saia
pra padaria e voltava com diversas revistinhas da turma da Mônica pra mim. Eu
tinha vontade de comer um doce, ele ia antes que eu acordasse comprar morangos
e a gente misturava leite condensado e comia juntos no quarto dele, assistindo aos
meus desenhos de menina. Ele me levava
pra piscina, e eu gostava de pisar nas pernas dele pra me sentir mais segura na
parte funda. Ele me deixava fazer quase tudo que eu quisesse, e lembro a
primeira vez que brigou comigo, quando resolvi sair do nosso condomínio pro de
uma amiga, há menos de duzentos metros, de bicicleta sem avisar. Os olhos dele
pra mim eram de raiva, mas também de medo, e aquilo acabou comigo.
Um dia meu
pai me deixou dormir às 11h da noite, e eu achei aquilo o máximo! Meu pai
sempre me encheu de palavras de admiração, sempre levou a sério o que eu
sentia, e até hoje me fala do quanto acredita que as mulheres são muito mais evoluídas
que os homens, rs. De fato ele sempre foi um grande feminista.
Os anos foram passando, e por causa dele realizei meu grande
sonho do intercâmbio, onde conheci o amor da minha vida... Há quase um ano, ele
me levou no altar até esse amor, e o recebeu no coração, sabendo o quanto ele
me faz feliz.
Meu pai não é um herói americano. Mas no meu coração, ele é o
herói que me ensinou que a vida é complicada, mas nas coisas simples, na
fotografia, nos livros, nas viagens e especialmente na conversa, dividimos pra
somar. E o colo dele me trouxe muita paz. Meu pai não é herói, nem americano.
Meu pai é o melhor que ele pode ser pra mim. Ele é pai por
inteiro.