domingo, 12 de agosto de 2012

Meu pai não é herói de filme americano



Meu pai não é herói de filme americano. Mas perdi as contas de quantas baratas ele matou por mim, mesmo que fosse no meio da madrugada e ele tivesse que acordar para a perseguição. Ele não é o mais forte de todos, o mais machão, o mais seguro. Mas sempre me mostrou seu lado humano, o que nos permitiu uma proximidade invejável desde cedo. Ele também nunca foi o mais alto, mas nos ombros dele eu me sentia a maior das criaturinhas. Meu pai saia pra padaria e voltava com diversas revistinhas da turma da Mônica pra mim. Eu tinha vontade de comer um doce, ele ia antes que eu acordasse comprar morangos e a gente misturava leite condensado e comia juntos no quarto dele, assistindo aos meus desenhos de menina.  Ele me levava pra piscina, e eu gostava de pisar nas pernas dele pra me sentir mais segura na parte funda. Ele me deixava fazer quase tudo que eu quisesse, e lembro a primeira vez que brigou comigo, quando resolvi sair do nosso condomínio pro de uma amiga, há menos de duzentos metros, de bicicleta sem avisar. Os olhos dele pra mim eram de raiva, mas também de medo, e aquilo acabou comigo. 

Um dia meu pai me deixou dormir às 11h da noite, e eu achei aquilo o máximo! Meu pai sempre me encheu de palavras de admiração, sempre levou a sério o que eu sentia, e até hoje me fala do quanto acredita que as mulheres são muito mais evoluídas que os homens, rs. De fato ele sempre foi um grande feminista.

Os anos foram passando, e por causa dele realizei meu grande sonho do intercâmbio, onde conheci o amor da minha vida... Há quase um ano, ele me levou no altar até esse amor, e o recebeu no coração, sabendo o quanto ele me faz feliz.

Meu pai não é um herói americano. Mas no meu coração, ele é o herói que me ensinou que a vida é complicada, mas nas coisas simples, na fotografia, nos livros, nas viagens e especialmente na conversa, dividimos pra somar. E o colo dele me trouxe muita paz. Meu pai não é herói, nem americano.
Meu pai é o melhor que ele pode ser pra mim. Ele é pai por inteiro.  

terça-feira, 7 de agosto de 2012

Na estrada





A folha em branco. Os olhos diante na máquina de escrever. Nenhuma letra sequer. Nada.

A estrada vazia. Dentro do carro, seguindo pelos quilômetros sem fim, uma reta única, árida, vaga. No meio do nada.

Ambas incertas. Firmes, porém perdidas, sem limite. Até onde irá a estrada? Onde se vê a próxima curva? Como se inicia o texto, como construí-lo, bordá-lo, nitri-lo, como? Por onde começar? 
As letras, antes de unidas em palavras, e então frases, são apenas letras. Sozinhas. Separadas. Sem sentido.

Uma estrada vazia. Uma folha em branco. Que será mais angustiante que isso?

Um coração que anda em linha reta, sem nada encontrar, vendo sempre a mesma paisagem. Ou que, na tentativa de criar laços, vê letras, mas não consegue reunir frases. Talvez seja ele sim, o mais vazio de todos.