quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Apagão - micro e macro


Inspirando-me numa velha amiga (não que seja a amiga uma velha, mas por nos conhecermos há anos e ao mesmo tempo não nos vermos há séculos), senti vontade de expor meus sentimentos quanto ao apagão de ontem.
Deixando de lado a revolta quanto a nossa vulnerabilidade diante de tal fato, e a dificuldade que muitos provavelmente passaram, sinto dizer que gostei.
Fora o calor que estava naquela noite, foi bom perceber que minha necessidade de uma cama e de um silêncio foram muito maiores do que o vicio de uma internet ou uma televisão ligadas o tempo todo. O barulho constante nos impede de ouvir o nosso próprio coração...E mais ainda o coração alheio. De qualquer forma, até meu celular (que virou Vivo) parou de funcionar - e isso eu com minha mente nada matemática ou científica não pude explicar - mas o fato é que fiquei incomunicável.
Meu pai acendeu as velas e desceu, achando mais fresco no sofá.
Eu deixei uma velinha simpática ao lado da cama, e fiquei ali parada, olhando-a. Como era simples sua forma de existir, de ser no mundo. (Pensamento um tanto idiota levando em conta as obrigações impostas pelo mundo moderno), mas me contentei com ele, de verdade e ali pensei, numa vida mais simples. Peguei a máquina e me diverti clicando nas luzes, penumbras e sombras, ao som da chuva caindo nos galhos das árvores, que me relaxavam. Não pensei mais na minha monografia, no dia seguinte, ou em tudo que eu ainda queria ler antes de dormir. Não pensei em ninguém, só no escuro, no dormir sem lençol e na janela aberta, com os pingos caindo, como numa dança sincronizada... Logo conclui: bem melhor que aquele outro barulhinho que dita nossas vidas: "tic-tac-tic-tac-tic-tac..."
Pensei que às vezes é bom simplesmente parar. Olhar em volta, sentir o ar entrando e saindo, sentir os afetos, as faltas, as angustias, as dores e perdas, sentir as saudades, os amores, as amizades, as vontades, os prazeres. Só olhar e sentir, sem cobrança, sem pressa, sem luz. Vá pelo tato, pelo cheiro, pelo que lhe parece melhor, mais seguro ou até mais arriscado, mas vá pelo que lhe chame. Se a luz estiver forte de mais, feche os olhos e ouça... afinal, já nos disseram tantas vezes: "O essencial é invisivel aos olhos". (Antoine de Saint-Exupéry)

4 comentários:

  1. Ái Mel, que linda!
    Amei ter sido mencionada, e muito mais o seu post!!! Poxa, deixou o meu no chinelo!!! Mas amei ter inspirado você!!!Esse recolhimentos, e a escuridão lembra são tão necessários ne...
    =) Vamos nos inspirar!!!! E marcar alguma coisa né?!
    beijocas

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  2. ana
    mt bem colocado, de forma tocante e puramente verdadeira.
    é incrível o ponto a q chegamos... no qual precisamos de um apagão para colocar algumas coisas em ordem por imposição. eu mesma estava no trabalho e nao tive outra opção senão parar e ir para casa. e como essa desconectividade nos faz parar para refletner não é..?!

    bjos

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  3. Filha cai no seu blog.Melhor ,tropecei,rodei,fiquei tonto, emocionado. Há uma mulher dentro de minha garota, que eu não me dava conta.Neste turbilhão de emoções que estou passando atualmente reconhecer em você toda esta capacidade de se expressar emsentimentos e devaneios, sensibilidade... Vc me ajuda muito

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  4. Julia

    Pq vc me ensina a ser assim..
    A parar, olhar, refletir, sentir...
    Com vc, eu faço tudo isso muito melhor!!
    E vc tem que escrever um livroooo!!!!
    Seus escritos são perfeitos!

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