terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Lia e a lua


Era quase meio dia. Mas ela não viu a manhã passar, muito fez e pouco apreendeu, como se de algum modo, tivesse entrado no automático novamente. Dando-se conta daquele sentimento, parou e tentou olhar para a sua vida, mas já era hora de voltar ao trabalho. Não gostava do que fazia não se sentia feliz ali entre as baias de uma empresa esquisita, mas de alguma maneira lhe parecia viável, "correto". Quando jovem, Lia detestava o termo, mas atualmente havia-se reconhecido como alguém que não buscava outra coisa. Ela não saia do óbvio, do esperado, do "certinho". Nem um chopp a mais, nem um minuto além do previsto, nem um segundo de atraso, nada de mais cinco minutinhos na cama, uma viagem inesperada então nem pensar! Vivia de forma medíocre, mas não sabia. Ela havia alcançado um estado de cegueira que a cercava por todos os lados. Não era apenas uma cegueira visual, mas emocional, espiritual e sensitiva. Porém, ainda que anos tivessem se passado daquela maneira, por algum motivo, hoje ela havia notado. Naquela fração de segundos entre o digitar de um email "urgente" e dois dedinhos de café, Lia havia se lembrado de si mesma. Logo, tudo o que ainda guardava de sonhos, dons, talentos e vida dentro dela começou a borbulhar no estômago, como se quisessem sair, sentir a liberdade, o vento no rosto mais uma vez. Como se gritassem: "Lia, nos solte, assim libertaremos você!", mas um novo email entrou na sua caixa, e todos os sentimentos vibrantes voltaram a se esconder. Ela tinha uma caixinha especial pra eles, bem no fundo da alma, entre o desejo e o arrependimento. O dia foi passando, rapidamente, como outro qualquer. Lia voltou pra casa, levando o trabalho extra. Depois de um banho quente para relaxar, sentou-se no seu escritório em frente ao laptop, e enquanto ele abria algo lhe chamou à atenção: uma lua redonda, viva, brilhante a observava do alto e para Lia, foi como um renascer de esperança.
Sorriu, desligou seu computador e dormiu leve, como aquela jovem questionadora, que depois de um dia cheio de devaneios, repousava serena. Lia despediu-se ali de suas escolhas exatas que nada tinham de certeiras e quem sabe, talvez acorde mais menina... Era quase meia noite.

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