terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Despedidas


A novidade caiu como uma bomba, e assim, não mais que de repente, o fluxo de sua vida mudou. Sentiu o estômago revirar, tinha certeza que estava pálida e que sua boca havia ficado seca, as palavras lhe faltavam. Mas era mesmo aquilo, ele estava partindo, pra bem longe, num caminho que poderia se tornar sem volta pro coração de Bia. Ela sabia disso. Pela primeira vez, deu-se conta do quanto ele havia se tornado importante pra ela. Seria apenas carência, necessidade de alguém ou teria encontrado amor, aquele que gostava tanto de filosofar sobre, guardando no fundo um imenso medo da descoberta? Estavam juntos há praticamente dois anos, mas Bia nunca havia se entregado verdadeiramente àquela relação. Buscava o que pra ela era como o equilíbrio, dava-se pela metade, a outra metade incobria, permitia que realizasse outros desejos, com aquela alimentava fantasias à parte. Dessa maneira, não precisaria descobrir todos os riscos e aventuras daquele amor. Ela, que se dizia tão desapegada, tão livre, havia percebido finalmente o quanto devia ter valorizado aquele que estava sempre ali ao lado, doando-se dia após dia. Mas foi quando ele disse:
- Vou pra não voltar.
- Nem para um filme com pipoca? - Ele sorriu. Ela sabia mesmo num momento como aquele, usar seu charme e tirar o foco da questão principal. Ou melhor, não sabia, não tinha idéia de como lidar com mais uma ferida.
- Você não quer me dizer nada? - Como ele a amava, ansiava por alguma troca.
- Eu te amo, vou sentir a sua falta como um buraco negro dentro da alma, não sei como irei conseguir... - Os olhos enchiam-se de lágrimas puras, todas as sensações dela eram verdadeiras, pena serem tão efêmeras. Ele a abraçou forte, deixou que algumas lágrimas também rolassem, sem que ela notasse.
- Meu amor, você nunca soube... você não soube. - Suspirou.
- O que? Te olhar com ternura? Dividir com você minhas dores?
- Não... o que você não soube foi ser inteira. E eu preciso ser inteiro, não quero mais só uma parte de ti. - Ela entendia os motivos dele, entendia aquele momento, entendia sua incapacidade. Ela só não conseguia entender o sofrimento, aquele buraco, já sendo cavado ali mesmo. Não entendia como, se havia se guardado tanto, se havia sentindo interesse por outros e até sentido que poderia amar outra pessoa, se havia buscado sempre refúgio em si mesma, desapego, sem cobrança, sem amarras. Ela não entendia. Mas sua falta de entendimento não lhe levaria mais a lugar algum. Agora, só os sapatos largados na sala, o CD do pearl Jam, os livros que dividiram, a taça de vinho da noite anterior, as lembranças cravadas, o cachorro dele, a parte dela mesma que havia indo embora junto com ele. Jamais reencontraria aquela parte.
Ela não entendia. Não vivia. Não queria.

Um comentário:

  1. Ana, to super emocionada. Parece que nos momentos mais sensíveis, os textos mais emocionantes nos atraem. To sentindo uma coisa de "nossa eu também", "quem eram?"...
    "Buscava o que pra ela era como o equilíbrio, dava-se pela metade, a outra metade incobria, permitia que realizasse outros desejos, com aquela alimentava fantasias à parte."

    Nossa sensacional, muito bom saber que não sou só eu...

    ó, pronto, to inspirada de novo, por sua causa!!!

    Beijos, e escreve mais vai!!

    ResponderExcluir