domingo, 21 de março de 2010

Sunshine: do lado de dentro.



O lugar chamava-se saudade. Ficava em algum ponto entre a primeira longa conversa ao telefone e o beijo roubado naquela sala. Não pense que se tratava de um caso de amor, era bem mais que isso: uma verdadeira amizade. Quem olhava de longe, enxergava apenas uma menina tímida e um cara falante que se divertiam às custas de suas diferenças. Para eles, significava bem mais. Trocavam não apenas confidências, mas conselhos regados de compreensão. Ele ouvia tudo sobre o primeiro namorado dela e ajudava-a nas provas de física. Ela foi a primeira a entrar no seu carro novo quando ele mal sabia dirigir. Dividiram leituras, filmes e viagens (em sua maioria, mentais). Engraçado como suas faltas pareciam encaixar-se e por vezes confundir-lhes. As palavras de um esbarravam na do outro e o autor já não importava: entendiam-se. Quando estavam juntos, as máscaras não só caíam, como despencavam, e as diferenças transformavam-se em longas pontes, capazes de subir e descer altas colinas. Mas de algum jeito, o tempo e uma confusão chamada desejo, pareceram esmagar a intimidade longamente construída. “Nossa intimidade era grande. Cresceu tanto que chegou até o teto, e caiu.” Era mesmo isso. Aos poucos as longas conversas resumiam-se a olhares constrangidos, os abraços sinceros a toques tímidos, e encontros semanais a esbarrões esporádicos. A relação havia ficado rasa. Ganhou tanta cor, que desbotou. Entenderam como “mais” podia mesmo torna-se “menos” e resumir-se um dia a quase nada.
Mas ela sabia que nada mudaria o peso daquele encontro, precioso como poucos. Que com ele havia descoberto certos pedaçinhos de si mesma que até hoje estavam com ela, o que significava que ele continuava ali: não perto, mas ainda assim, do lado de dentro.

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