segunda-feira, 29 de março de 2010

As horas escorrem.


As horas passam. Uma, duas, três. O raio corta o céu negro, a chuva cai sobre a pele clara. Quatro, cinco, seis. A chuva não pára. Molha as flores, os rios, os carros sujos. O excesso afoga a menina, nascida em berço de ouro. A falta encobre o menino, que nem berço teve. Uma janela é fechada pelo vento forte. Logo depois, duas outras se abrem, pelo mesmo vento que soprava. O velho não corre. Já cansou. Apóia sua bengala no chão da rua, antes molhada. Sabe que tudo o que jorra, chega a um ponto em que seca. Tudo que transborda, pode cessar. Não lamenta mais o excesso de chuva,nem a sua falta, nem a rua escura, ou a claridade que cega. Não espera um tempo ainda por vir, nem suspira pelo que já não é. Senta, e contempla. Liberto das amarras temporais e ao mesmo tempo preso ao pouco que lhe resta. As horas passam.

"Seguiria sempre em frente e iria jogando, pelo caminho, a casca dourada e inútil das horas".
Quintana. 

Um comentário:

  1. Inútil mesmo! Sou muito ansiosa, mas o tempo as vezes parece ser um só. Muito lindo, mel!!
    Beijocas

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