sexta-feira, 27 de abril de 2012

Pés descalços


Pés descalços, sorriso estampado na cara. Mais uma manhã na vida da menina de 10 anos. De férias. Na casa do pai.
Ela era uma estampa de preguiça boa com energia, aquele misto de vontade com calmaria. Coisa de criança.
O café da manhã farto, as brincadeiras com a vizinha, os mimos da "mãe preta". Batata frita no almoço, que Elza cortava bem fininha, imagina uma batata palha feita na hora, crocante, fresquinha. "Melhor batata frita do mundo", ela dizia.
Brincava no jardim, banho de mangueira, bicicleta no condomínio, aniversário de boneca. Com bolo e tudo.
À noite, miojo com galinha, que a amiga da escola comeu pela primeira vez na vida. E repetiu. Algumas vezes.
Som de desenhos animados pela manhã, na cama do pai. E de noite, filme infantil, deitada no peito dele. E aquele cheiro do desodorante que ele nunca mudou.
Ela sabia, sentia que eram dias que não voltariam. E os vivia na mais intensa entrega, ingenuamente aceitando-os como o "pra sempre" dela, ainda que passassem. Sempre passavam. Mas eram só dela, aquelas horas, que viraram dias, semanas, meses... e então, anos.  Tão contraditório e tão certo. Coisas do tempo.
Mas aqueles dias, sempre na memória, a fonte do brincar, saborear. Mastigar cada pedaço, com graça, curtindo, sem engolir inteiro nunca. E era assim tão fácil!
O segredo é lembrar, sempre que possível, dessas "coisas de criança". Só perde quem não quer encontrar.
Mas aquela batata frita... a melhor do mundo! Nunca mais iria provar.

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