segunda-feira, 3 de maio de 2010

O dança do tempo


Quando eu tinha meus 7 anos, minha avó adorava me mimar. Em sua casa nunca faltava um bombom ou uma empadinha, e como boa gordinha que eu era, nunca negava um só agrado dela. Ficava horas me ofereçendo guloseimas e muitas vezes para me distrair íamos passear na praça Sans Peña (que pouco se parece que o Rio de Janeiro que reconheço hoje). Eu adorava passar tempo com ela. Quando tinha uns 5 anos mais ou menos, ela vinha pra minha casa às quartas e eu logo dizia alegremente: "hoje é sassacêla, a vovó chegou!!" Juntas jogávamos baralho, brincávamos de casinha e fazíamos até aniversário de boneca, uma festa de verdade, com direito a bolo e parabéns! (Coisas de quem cresceu como filha única, rs). Mas de toda essa alegria, me lembro como se fosse hoje da minha parte preferida: a hora de dormir. Isso porque ela tinha toda a paciência do mundo, me botava pra dormir com ela e contava historias. Eu pedia que ela contasse, mas não podiam ser histórias já conhecidas, tinham que ser "historias inventadas". E então ela narrava algumas que eu nunca tinha escutado, sem saber se inventava  na mesma hora... Mas pouco importava, meus olhos brilhavam a minha criatividade pulsava ao imaginar o gigante bonzinho de quatro olhos. Quando somos crianças não temos muita noção do que vai nos marcar. Não sei porque, mas nunca esqueci as histórias que ela me contava. Sei todas, e já não são inventadas, tornaram-se histórias decoradas.

Anos se passaram... Minha vó já quase não fala. Fica me olhando com olhos ternos, fortes, focados nos meus. As palavras não acompanham mais, mas ainda a sinto, sinto sua presença no seu olhar e na mão que aperta forte a minha. E hoje posso olhar pra ela e lembrá-la do gigante bonzinho de quatro olhos e simplesmente torcer pra que ela também sinta o que um dia eu senti: o carinho de quem te vê crescer.

Um comentário:

  1. Vim no seu cantinho agradecer o seu carinho. E sempre procuro um post que eu me identifique pra poder comentar. Logo um dos primeiros... fácil, né? Falar de vó é enternecer meu coraçãozinho. Fico toda derretida e adoto todas as vovós pra mim! rs
    E vc ainda é de Nikiti, né? Morei lá toda a minha vida. Aí, roubaram meu coração e estou no Rio há 3 anos por conta dele. Sou feliz demais aqui no Rio, mas doidinha pra voltar pra Nikiti!
    Vou seguir suas palavras!
    Beijoooooooooooooo!

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