quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

2010


Queria estar inspirada. Afinal, é o meu último post do ano de 2010. 
O ano do desapego. Despego do status quo, da "estabilidade". Um ano de "tudo diferente". 
O ano das conseqüências das mudanças iniciadas em 2009. Mudança é mesmo um processo: ninguém muda de uma hora pra outra, ou só porque resolveu mudar. Mudar o outro então, nem pensar, esquece!
Um corte de cabelo novo e ousado não é a mudança em si: ele é o reflexo de uma mudança profunda e lenta. Muda-se de dentro pra fora, aos poucos, e dói pra burro.

É preciso relaxar. Saber curtir um momento, uma situação, uma paisagem, um mergulho, uma companhia. 
Nada se repete. Pode até ser parecido, mas não é igual, pois você mesmo já não é o mesmo que era na primeira vez. Você mudou, o outro mudou, e a relação também.
Por isso, não existe essa tal de "segurança". Ela é uma ilusão, um nome que inventamos pra o costume. Não pense que o que está acostumado a sentir não muda, que o seu parceiro não muda, ou os seus amigos... Os planos mudam, as expectativas, os sentimentos, as  idéiais ideias (e até as regras de ortografia)!
A única coisa que não muda mesmo é a rede Globo.
Sonhar nunca é de mais. É bom experimentar, pois qualquer dia desses o sonho pode mesmo tomar forma e cor bem na sua frente!
A leitura é outro tipo de relacionamento: com as personagens, a história, os cheiros e gostos. 
E a música... Ah! Fica até difícil falar. Música é companhia, é sentimento que pulsa em algum lugar entre o nosso coração, o do compositor, e as notas ouvidas (e porque não sentidas)?
É bom passar um tempo sozinho. De preferência com um café com leite, e jazz ao fundo. 
Ir ao cinema muitas vezes no ano transforma a vida de qualquer um. Fato. É um encontro com nossas próprias catarses.
Fazer terapia é libertador pra qualquer alma (e as que estão à sua volta). E não digo isso por ser terapeuta, mas cliente. 
Muitas vezes, a sua mudança alcança o outro e ele acaba tendo que mudar com você. É bom sentir a leveza alcançada por uma relação outrora cansativa. Se você se respeitar, o outro não tem alternativa a não ser te respeitar também.
O nascimento de uma criança gera um sentimento de perdão e alegria. E tudo se faz novo. 
Cultivar amigos faz brotar: sorrisos, poesias, presentes, risadas, viagens, memórias... um sem fim de bênçãos.
Entregar-se ao novo é fundamental. Dali abre-se janelas e portas bem largas que antes não tínhamos reparado.
É interessante permitir que as pessoas te surpreendam. Quebrar paradigmas nos faz mais humanos e menos "donos da verdade".
Falar é bom. Dizer não também. Tudo o que guardamos lá dentro, pode gerar doença. E doenças sérias! Se o outro não pensa assim, ao menos você se amou o suficiente para expressar o que sentia.
Não há sentimentos bons e maus. Tudo faz parte da nossa natureza. Não é feio ter raiva, é natural. Feio é dar um soco em alguém no trânsito, porque você não disse ao seu pai que não gostou da maneira que ele te tratou mais cedo.
O outro é um espelho. Talvez "aquele jeito" dele te incomode tanto, porque você gostaria de ser um pouco mais assim também, mas não teve coragem.
Deus as vezes coloca pessoas muito difíceis na sua vida, para que você aprenda com elas.
Vá com medo, mas vá! =)
Converse com sua criança interior de vez em quando. Pode ser que até hoje ela atrapalhe um pouco na sua maneira de ser. O que fez sentido um dia, hoje pode não fazer mais. Deixe que ela vá.
Fale dos seus traumas com alguém que confia. Fantasmas intocáveis tendem a crescer...
Toda escolha é uma renúncia.
Quando resolvemos entrar em contato com nossos problemas emocionais, nos tornamos livres, pois fica claro que temos sempre mais de um caminho a seguir: Existem opções! Repetir sem se dar conta não é saudável.
Construir algo seu traz uma sensação única! Fico imaginando como será ter um filho...
O mundo pode estar muito evoluído, mas trocar sempre será vital. A vida acontece no entre.
A relação com nossos pais muda sempre, e é bom vivenciar suas vantagens a cada nova fase.
O amor não deve ser egoísta. É preciso saber dosar.
A distância não necessariamente muda coisa alguma. O que muda é não aprender a lidar com a falta. 
Chore quando sentir vontade. Lágrimas não foram feitas para ficarem presas, assim com os passarinhos.
O estado do seu quarto está diretamente relacionado com seu estado de espírito. É bom arrumá-lo every now and then.
O twitter e o facebook são divertidos, mas não fazem companhia. Desligue-se de vez em quando. 
Viajar é fundamental. Mesmo que seja a 1h de distância.  
Comer com prazer faz bem a saúde!Exercitar-se também!
Relacionamentos são trabalhosos. E muito. Mas nada vale mais do que sentir-se cativado.
Sem fé nada disso seria possível. Deus transforma se a gente quiser. Mas Ele respeita nosso espaço....

Agradeço a todos os meus amigos, que viveram comigo esse ano de 2010. 
Amo muito todos vocês! 
Que 2011 seja um ano abençoado, rico em amor, paz, saúde e muito aprendizado! 
Beijos!

domingo, 5 de dezembro de 2010

Sem teto e sem chão





Era uma tarde cinzenta. Lá estava, num banco de praça. Um banco que nunca havia sentado antes, numa praça que costumava ignorar. Toma um gole de café. A bebida desce quente pela sua garganta. Suspira. Quase pode ouvir o tic-tac do relógio. Um pássaro passa voando. Então, lembra-se dele. Mais um gole...

Palavras lançadas ao vento, certos abraços apertados, detalhes quase imperceptíveis: um passo mais lento, um olhar ensurdecedor, risadas cegas, gestos soltos, um piscar de olhos, talvez. O carinho que faltou, o atravessar paralisante, o descaso desconcertante. A falta.
E esbarravam em medos, regressavam sem soltar. Embaraço. Como um nó sem nós, envolto num laço frouxo e disforme.
Histórias escritas nas esquinas de uma cidade sem silêncio. Cúmplice. Histórias essas, regadas por xícaras de café, pelo balanço do metrô, nas entrelinhas de tantos livros espalhados, nas notas de um jazz desafinado. Reféns de palavras nunca ditas. Laço construído e desapegado, frágil, abandonado. Afeto sem teto, sem chão. Emoção provocada e lançada ao vento, procurando-se desfazer.
Roubou dela o respirar, o leve repousar e algumas lágrimas. Deixou em troca poesias, humildes conclusões e um mergulho em si mesma.
Encontro desencontrado, perturbado, profundo e raso, certo e tão duvidoso. Dor que se desdobra, só dorme um pouco, até que acorda. Fantasia, lembrança, vento...
Um esbarrão, um susto, um parêntesis: tem sua importância, carrega dentro de si um sentido. Mas a história continua com ele, apesar dele.
A dor, o frio na espinha, o acelerar dentro do peito: o tempo levou... fez voar. Levou também os diálogos, as fantasias, e (quase) todas as esperanças. Levou o que o vento um dia trouxe.
E o que ficou, era então, só dela. Só lhe restava colher os frutos e as flores pelo caminho.

Levanta a cabeça do livro rabiscado à sua frente. Mais um gole. Apenas fragmentos de uma história de (des)amor.